Andréa, Mon Amour

Microconto Inabitual

Um dia verei Andréa nua, página por página. Conheci-a faz pouco tempo, de óculos. Tem um semblante de mulher francesa, dominadora, dá medo olhá-la. E nós homens não suportamos o atestado de submissão, acho que sou um tanto masoquista, por Andréa valeria o sacrifício de me ajoelhar. Uns dizem que ela não vinga ou que vai ser rica ou que vai morrer aos trinta e cinco ou que não vai vender blá, blá e blá. Confio no taco dela, menina pra frente, tão pra frente que parece homem. Não morre tão cedo, duvido. Apaixonei-me de repente por Andréa. E nem sei quem é essa mulher.

Ontem se encontrou com outro, bem debaixo do meu nariz. É feio e gordo. Ela gostou. Deliciou-se por dentro. Ela gosta de ser provocada. De apanhar também, principalmente na cara. Um dia darei um tapinha só para experimentar o rosto branco e suave de Andréa. Vai ficar vermelha de amor. Tem sonhos também, como qualquer um. Temos o mesmo sonho bobo de ser mais, de cravar o nosso nome na veia da história. Para quê? Pouco importa, queremos escrevinhar coisas úteis, que façam sentido para pessoas úteis.

Na noite de autógrafos eu me escondo no cantinho, vendo os movimentos oblíquos de Andréa. A caneta na mão, o sorriso na boca, boca carnuda que se mexe para agradecer. A maldita fila se forma, uma fila de mãos, mãos de livros. O ciúme matou a mulher do negro, é preciso cuidado. Fico ali, no limbo, olhando. Minha função, momentaneamente, é observar cada passo. Andarei pé ante pé para alcançá-la. E sei que apesar dos trejeitos, Andréa escreve pensando em mim.

Um comentário:

Nanda Nascimento disse...

Valeu a pena passar por aqui.
Escreves bem!!
Abraços!!