Microconto Inabitual
Maestro e prefeito sentados. Batidas na mesa, gritos, dedos apontados e uma resposta definitiva: não. Inútil argumentar nessas horas. Cultura não importa, arte não serve. Vá trabalhar, homem. Eu sou músico. Arrume outra coisa para fazer. Só sei viver de música. É o fim da orquestra de câmara.
Sem recurso público, os músicos da cidadezinha são obrigados ao retorno de antigas profissões. Um violinista volta a ser marceneiro, dois violoncelistas assumem as chaves na oficina de autos, um contrabaixista vende pipocas na praça. Há balconistas, escriturários, garis e cozinheiras. O maestro, desempregado, toca violino na porta da igreja em troca de moedas no chapéu.
Antes de entrar na igreja, o prefeito passa pelo maestro sem olhá-lo nos olhos. O maestro não o percebe, está muito ocupado tocando Vivaldi. Ao término, guarda as moedas e cédulas na bolsa, chapéu panamá na cabeça. Em casa, conta o dinheiro. Mais duas missas e paga a primeira prestação do violino.
Sem recurso público, os músicos da cidadezinha são obrigados ao retorno de antigas profissões. Um violinista volta a ser marceneiro, dois violoncelistas assumem as chaves na oficina de autos, um contrabaixista vende pipocas na praça. Há balconistas, escriturários, garis e cozinheiras. O maestro, desempregado, toca violino na porta da igreja em troca de moedas no chapéu.
Antes de entrar na igreja, o prefeito passa pelo maestro sem olhá-lo nos olhos. O maestro não o percebe, está muito ocupado tocando Vivaldi. Ao término, guarda as moedas e cédulas na bolsa, chapéu panamá na cabeça. Em casa, conta o dinheiro. Mais duas missas e paga a primeira prestação do violino.
12 comentários:
É, infelizmente esta é a triste realidade da arte no nosso país... Não só da música, mas também de muitas outras, inclusive da literatura! Amigo querido, obrigada pelo comentário no meu blog... foi exato e preciso! Rsrsrs, como sempre! Beijocas estaladas e um ótimo domingo.
E ainda sonhamos viver de arte, não é meu confrade? Não sei se se baseou numa história real, mas em Itumbiara, conheço um ser exatamente como descreveu. Parece-me que eles ainda são comuns em nosso estado, em nosso país. O que é uma pena, se olharmos com os olhos capitalistas, os pobres vivem ou sobrevivem com tão pouco.
Mas vistos pelos nossos olhos tortos são inspiração, são seres poéticos, cheios de beleza!
Beijo, meu querido!
Embora pareça desencantada, a magia não se perde. Ela vibra seus sons mesmo que hajam ouvidos surdos.
beijo meu
Antônio, regendo a realidade com "Maestria"!
Beijão!
Casti
certos mesmo eram os tabibans, que proibiam toda a pataquada.
Olá! Obrigada pelos comentários. Mais uma vez gostei do texto. Tanto pelo tema quanto pelo estilo. Interessante que o que aparentemente mais se degradou, o maestro que foi pedir esmolas, foi o único que não abandonou a música.
A arte, a cultura nunca foi tão abandonada como agora!!
Voltarei!!
beijos
Comovente, caro Antônio!!! E o duro é que, enquanto isso no senado brasileiro...
...
Mas na direção contrária do seu conto (que é o normal) aqui na minha cidade, tem uma orquestra jovem que deu certo. Veja no link abaixo.
http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1316811-EI7897,00.html
O mais engraçado é saber que tudo acaba em pizza!
Obrigado por comentar lá nas minha rasuras...
Tem texto novo:http://desejosevirtudes.blogspot.com/2007/06/o-sonho.html
Realmente, Antônio, é uma pena. Existem poucos com boa cultura no país. È por isso que não há para quem vender construções artisticas.
Bel texto. O fim traduz a ideia.
[]´s!
Só pra dizer que passei, esperando ler mais um, mas depois eu volto!
Beijo!
Eu acho que teu microconto vai além da questão da falta de vontade política do Estado para com assuntos da arte. Ele fala de um Estado que faz questão de não proporcionar arte para o povo pois, no fundo, sabe que esta é redentora.
Forte abraço!
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