Microconto Inabitual
Ah, almoço de família. A fome corroendo o estômago, disfarçada por horas enfadonhas. Enquanto o homem vai ao banheiro (de certo é o dono da casa) as cunhadas jovens fazem comentários capciosos sobre o volume da virilha. Quatro crianças entre cinco e dez anos brincam de pique. Dois homens se beijam às escondidas na garagem. Uma mulher prepara o arroz.
A velha vai ao galinheiro fazer o serviço. Sinal de morte à vista. Fácil pegar a presa. Com a cabeça em punho dá meia dúzia de voltas no pescoço. A degola está feita. Duas partes desprendidas, independentes. A galinha vai cair em si; quando descobrir que está morta morrerá. Pulando, pulando. Passam-se minutos. O relógio estica-se. Duas horas. A galinha ainda está viva.
Como salvar o almoço? Partiu de uma criança a idéia genial: vamos almoçar fora! Todos concordaram. Os dois carros saem deixando a galinha. Bota um ovo. Aos poucos foi se habituando a viver assim. Percebeu que sua cabeça era inútil.
11 comentários:
Um ótimo conto bizarro, gostei!
Obrigado pela passagem pelo meu blog!
Abraços
olá vim retribuir sua visita ao meu ninho, e eu vegeteriana que sou, sofri um bocado com o microconto :), mas não deixei de me divertir com inusitado almoço de domingo, nessas reuniões podemos esperar de um tudo não é mesmo? ;)
prazer em conhecê-lo
um abraço
Odeio domingo, almoço em família então, um show de hipicrisias, sinto-me a própria galinha destroncada, sarcasmo delicioso nesse conto, com direito até a casal gay, que apoio com todo meu âmago!
Adorei...
poeta citadino que sou, não me é habitual o processo todo: as faces múltiplas da morte. sabe como é, a coxa saborosa já chega prontinha e esfumaçando no prato.
"adorei!" - pelo visto é esta a primeira palavra que vem à cabeça quando se lê seus escritos. por isso, enquanto inda tenho a minha caixola...
talvez o pior de tudo não tenha sido nem perder a cabeça, mas perceber que ela nem fazia falta. quantas pessoas andam por aí como a pobre galinha, né não?
Antônio, parabéns por sua prosa, por toda sua ousadia, é mesmo de tirar o chapéu!
té mais ler!
Antonio, querido.....
Prazeres diários e surpresas agradáveis hoje! Um prazer ler seu comentário no meu humilde blog. Vim retribuir e eis que descubro um blog interessantíssimo. Adorei tudo por aqui! Vc escreve muuuito!
Beijos e até breve.
Espero te 'ver'outras vezes no meu blog. Bem-vindo à minha VAN Filosofia!
Olá Antônio, seus microcontos são bem diferentes, inusitados, atraem nossa leitura...
Bom conhecer seu espaço.
Abraços...
ô, rapaz... só quem já degringolou uma galinácea pra saber. é difícil morrer. abraço.
COITADA DA GALINHA!!!
mas já que ela achou melhor viver sem a cabeça então tá bom...
Antonio, sempre bom te ler!
Bjão,
Casti
estranho, como mexem as palavras com um universo interno da gente.
eu adorei o conto, bem denso.
Minha avó, nunca matava galinhas perto das crianças. Ela dizia que se alguém ficasse com pena, a bichinha demoraria para morrer. AbraçoDasMontanhas.
P.E.: Num almoço em família aos domingos, pode acontecer todo tipo de imprevisto.
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